No início da tarde do dia 18 de agosto de 1965, há exatos 50 anos, a rodovia que ligava o Rio Grande do Sul aos demais Estados brasileiros foi interrompida. Uma das maiores enchentes da história elevou o nível das águas do Rio Pelotas, que, em fúria, levou na torrente, veloz e revolta, casas e barracões de madeira, toras, coivaras e árvores inteiras arrancadas das encostas. Todo esse material se acumulou na plataforma da velha ponte do Passo do Socorro, que formou uma espécie de barragem até ruir e descer rio abaixo ao encontro da “nova” ponte, construída em 1962, que também não resistiu e foi pelo rio abaixo. O Rio Grande do Sul estava isolado do restante do Brasil. No Passo, só restaram os escombros, envoltos na tristeza e na desolação.
O caos antecipava graves prejuízos econômicos e sociais. Calamitosos dias aqueles, que seriam feitos ainda mais penosos pelas chuvas incessantes intercaladas por nevascas jamais acontecidas naquela região. O Exército, que sempre se apresenta como vanguarda entre os primeiros que socorrem as populações atingidas pelas calamidades, deslocou-se para a região logo em seguida. No dia 2 de setembro, a ligação foi restabelecida por uma ponte provisória B4A1, de 200 metros, para 12 toneladas, cujas obras custaram a vida do soldado Jaime Couto Sírio, do 6º BECmb, que faleceu por afogamento no dia 26 de agosto.
Antes mesmo que uma segunda ponte provisória e prevista fosse construída para auxiliar no escoamento do intenso fluxo de veículos, no dia 5 de setembro o rio voltou a subir e arrastou a B4A1, interrompendo novamente a passagem. Dez dias depois, a ponte flutuante foi reconstruída e o trânsito restabelecido. Uma segunda, para 35 toneladas, também foi lançada enquanto se tratava de aproveitar os pilares que tinham sobrado para montar uma outra ponte, do tipo Bailey, mais adequada ao movimento. Em janeiro do ano seguinte (1966), no dia 10, a Bailey entrou em operação. Em setembro daquele mesmo ano, a nova e definitiva ponte foi inaugurada pelo general Castelo Branco, presidente da República.
No dia 16 de outubro próximo, o Comando Militar do Sul irá prestar, no local, uma homenagem a todos os militares que participaram daquela operação, inclusive ao soldado Sírio, do então 6º Batalhão de Engenharia de Combate, morto naquela vitoriosa saga para domar a fúria da natureza.
Colaborou Carlos José Sampaio Malan
Original: Click RBS